domingo, 6 de dezembro de 2009

INTRUSOS

Nestes dias voltou a ser notícia o confronto entre a defesa da natureza e da biodiversidade, por um lado, e a defesa do nível de vida humana, por outro lado.
De facto, apesar de não ser a primeira vez que trago este assunto à discussão, neste fim de semana aconteceram algumas realizações que merecem, de novo, a reflexão sobre o tema.

Efectivamente, Portugal, em minha opinião, tem dado sinais ao nível da legislação e da prática diária no sentido de privilegiar a defesa de plantas e de animais selvagens, seja o javali, o lince, o lobo, a cabra, o veado, ou outros, em detrimento da defesa do necessário nível de vida da população humana.

Por isso, considero totalmente pertinente a observação feita sobre o assunto pelo Dr Fernando Ruas, Presidente da Câmara Municipal de Viseu e Presidente reeleito da Associação Nacional de Municípios Portugueses, no Congresso Nacional desta Associação ao lançar o repto ao Ministério do Ambiente no sentido da necessidade de defender, antes de mais, a espécie humana e não ao contrário.

De facto, faz sentido defender a biodiversidade enquanto for possível nela incluir o homem. No caso contrário, nada teremos a defender, a natureza defender-se-á como sempre o fez.

Usar a pseudo defesa do “natural” criando dificuldades desnecessárias à vida do homem é e será um total despropósito que só num país governado por quem vive apenas dentro de caixotes de cimento pode ser possível tendo como consequências enormes erros económicos e estratégicos com consequências para todo o país.

Sinais notórios desta má politica que tem vindo a ser incentivada dando alguns “jobs” a quem nada mais terá para fazer, têm sido as decisões negativas dadas a diversas medidas de rentabilização do país rural que temos pelos Srs Directores dos chamados Parques Naturais, ou se quisermos, do Instituto de Conservação da Natureza, que, qual antigo senhor feudal, normalmente procuram cristalizar o estado selvagem dos seus montes que só não defendem, porque nessa altura estão em Lisboa ou em salas com ar condicionado, contra as chamas que de verão cobiçam a vegetação criada e entretanto protegida.

Exemplo concreto desta politica à portuguesa é a inauguração nesta data em Culatra, ilha do município de Faro, da conduta de transporte de água potável àquela Ilha, depois de 17 anos após a chegada da luz eléctrica, de vários boicotes eleitorais, de muitas promessas de todos os autarcas de que a obra seria feita, mas que o já referido ICN parece ter dificultado a todos.

Hoje, uma habitante de Culatra desabafava: “O Parque Natural e o ICN parece que olham para nós, habitantes, como uns intrusos, defendem tudo, menos a nós…”

Mais palavras para quê!?

Não pediam estes moradores desde há várias décadas um comboio de alta velocidade, nem uma ponte rápida ou tão pouco um aeroporto. Farol já têm. Pediam tão só água potável para um lugar onde a que aí existe já o não era.

Contudo, parece que neste país é mais difícil fazer obras que beneficiem as pessoas no seu dia a dia, do que obras megalómanas, elefantes brancos, capazes de enterrar milhões, mais milhões, e algumas vezes com pouca utilização para a maior parte dos portugueses.

E, vá-se lá saber porquê. Mas, num país em que nada se sabe, talvez se desconfie.


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